Porque não pude parar p'ra Morte, ela
Parou p'ra mim, de bondade.
No coche só cabíamos nós duas
E a Imortalidade.
Viagem lenta - Ela não tinha pressa,
E eu já pusera de lado
O meu trabalho e todo o meu lazer,
P'ra seu exclusivo agrado.
Passamos a escola - no ring crianças
Brincavam de lutador -
Passamos os campos do grão pasmado -
Passamos o sol-pôr -
Melhor dizer, ele passou por nós.
E o sereno baixou gélido -
Era de gaze fina a minha túnica -
E minha capa, só tule.
Paramos numa casa; parecia
Um intumescido torrão:
O telhado da casa mal se via,
A cornija rente ao chão.
Desde então faz séculos - mas parecem
Menos que o dia, em verdade,
Em que vi, pelas frontes dos cavalos,
Que iam rumo à eternidade.
Emily Dickinson
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